Tuesday, May 08, 2018

Uma Igreja amazônica, com rosto indígena!


Eis a missão de uma pastoral indigenista, conforme disse papa Francisco no encontro com vários povos amazônicos de Peru, Bolívia e Brasil, em Puerto Maldonado, Peru. Sim, papa Francisco estava novamente na América latina e a visita da vez se deu no Chile e no Peru. Desde a sua primeira viagem para o continente, durante a Jornada Mundial da Juventude no Rio de Janeiro em 2013, papa Francisco manifestou a sua preocupação com a Amazônia e com os povos originários. A Amazônia é um laboratório eclesial e socioambiental do futuro, reconheceu o papa. Daí  nasceu um movimento em prol da Amazônia—sua biodiversidade e seus habitantes—isto é a Rede Eclesial Panamazônica (REPAM). Em Puerto Maldonado (Peru) papa Francisco iniciou oficialmente os preparativos do Sínodo sobre a Amazônia em 2019 em Roma. É assim, da preocupação e do clamor nasce um movimento; de um gesto e de um olhar de ternura surgem processos coletivos de mudança, acontecimentos históricos marcantes. 

Nós, da Pastoral indigenista da diocese de Conceição do Araguaia, encontramos muita luz, esperança e coragem a partir das palavras e dos gestos de Francisco. Desde Evangelii Gaudium, ele nos propôs o Êxodo-Emaüs como um paradigma missionário. Ou seja, o anúncio do Evangelho aos povos originários ocorre  pela escuta reverente ao clamor e à sabedoria ancestral do povo, no caminhar juntos contra tudo que ameaça suas vidas, culturas e habitats, no criar espaços de diálogo intercultural onde a autonomia e o protagonismo do povo são reconhecidos. “Cada cultura e cada cosmovisão que recebe o Evangelho enriquece a Igreja com uma visão de uma face do rosto de Cristo... Necessitamos que os povos originários moldem culturalmente as Igrejas locais amazônicas...[e assim] plasmar uma Igreja com rosto amazônico e uma Igreja com rosto indígena” disse Francisco. Isso foi a missão de Frei Gil e os dominicanos que fundaram a nossa diocese. Isso é nosso mandato, enquanto igreja diocesana.
E nós, da Pastoral Indigenista, continuaremos animando a todos, do Araguaia ao Xingu, para que todo batizado se envolva nesta missão. 

É nossa missão também denunciar as ameaças que os povos originários vem enfrentando com relação a seus direitos, suas culturas e seus territórios. Aqui no Brasil, nestes últimos anos, observamos o ressurgimento do racismo estrutural e institucional que quer “integrar” o índio à comunhão nacional e, combinado com o preconceito propositalmente difundida na sociedade, inspira variadas iniciativas que visam a paralisar os processos de reconhecimento dos territórios indígenas e o desmonte dos artigos 231 e 232 da Constituição Federal de 1988 que garantem os direitos indígenas. Todas essas ameaças encontram-se resumidas numa convicção enraizada aqui no sul do Pará: o índio é obstáculo ao progresso! Francisco denunciou a perversidade de tal convicção pecaminosa. Porque, na verdade, os povos originários são nossos contemporâneos. Eles “são um grito para a consciência de um estilo de vida que não sabe medir os custos do mesmo. Eles são memória viva da missão que Deus confiou a todos: cuidar da casa comum.” Esse posicionamento do Papa manifestou a dimensão de denúncia inerente à missão profética da Pastoral Indigenista. Não podemos nos calar diante de tantas perversidades, tantas violências causadas pela ideologia do progresso ilimitado, pelo extrativismo e desenvolvimentismo, que, na realidade, são expressões da hegemonia do capitalismo financeiro. 

Assim, ao oferecer a cada povo representado no encontro de Puerto Maldonado uma cópia de sua encíclica Laudato Si traduzida em seu idioma, papa Francisco encorajou a Igreja que primeira os povos indígenas e amazônicos e que acompanha-os na luta pela sua dignidade, pela proteção de suas culturas, seus territórios e a Pachamama (a Mãe Terra). Ele deu alento aos processos de evangelização pelo diálogo intercultural e inter-religioso já em curso que fortaleça a fraternidade humana em prol do cuidado com a nossa Casa Comum. Francisco reconheceu que a Ecologia Integral encontra respaldo na sabedoria ancestral do Sumak kawsay (Bem Viver). Como disse a Gercília Krahô, denunciando os avanços violentos contra o cerrado, a pessoas precisam perceber que “nós somos as sementes da nossa mãe Terra, as flores dos nossos rios, somos os brotos dos tempos que virão!”

Assim seguimos juntos nos passos de Francisco, co-movidos pelo espírito de Evangelii Gaudium e Laudato Si, buscando a Pyka Mejx (a Terra sem Males), marchando no movimento popular e eclesial rumo ao sínodo sobre a Amazônia para que resplandeça o rosto amazônico, indígena, Kayapó de Cristo!

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